Calculadora de Prazos Processuais Atualizada com a Resolução CNJ nº 569/2024 (DJEN / Domicílio Eletrônico)

Calculadora de Prescrição e Decadência

Guia Completo sobre Prescrição e Decadência no Direito Brasileiro

No universo jurídico, o tempo é um fator determinante, capaz de criar, modificar e extinguir direitos. Dentre os institutos que regulam a ação do tempo nas relações jurídicas, a prescrição e a decadência se destacam como os mais importantes e, por vezes, os mais complexos. Ambos tratam da perda de um direito ou de sua exigibilidade pela inércia de seu titular, mas atuam de formas distintas e com consequências diversas. Compreender a diferença fundamental entre eles é essencial para a segurança jurídica e para a correta postulação em juízo. Este guia oferece uma análise detalhada dos conceitos, prazos e aplicações da prescrição e da decadência, contextualizando o uso de nossa calculadora como uma ferramenta de apoio para advogados e estudantes.

A Diferença Fundamental entre Prescrição e Decadência

Apesar de ambos os institutos resultarem na perda de uma posição jurídica vantajosa pelo decurso do tempo, a distinção técnica entre eles é crucial.

O que é Prescrição? (Perda da Pretensão)

A prescrição atinge a pretensão, que é o poder de exigir de outrem, coercitivamente, o cumprimento de uma prestação. Ou seja, quando um direito é violado, nasce para o seu titular a pretensão de buscar reparação. Se essa pretensão não é exercida dentro do prazo que a lei estabelece, ela se extingue pela prescrição. O direito em si (o direito subjetivo) não deixa de existir, mas ele se torna "enfraquecido", pois não pode mais ser exigido em juízo. O exemplo clássico é a cobrança de uma dívida: mesmo após o prazo prescricional, a dívida ainda existe, mas o credor não pode mais usar a via judicial para forçar o pagamento.

O que é Decadência? (Perda do Direito)

A decadência, por sua vez, atinge o próprio direito potestativo. Direitos potestativos são aqueles que não admitem contestação pela outra parte; eles conferem ao seu titular o poder de criar, modificar ou extinguir uma situação jurídica por um ato de sua própria vontade (ex: o direito de anular um contrato, o direito de anular um casamento). Se esse direito não for exercido dentro do prazo fixado em lei, ele se extingue por completo. Não se trata de perder a "pretensão", mas sim de perder o próprio direito.

Tabela Comparativa: Prescrição vs. Decadência

Característica Prescrição Decadência
Objeto Extingue a pretensão de exigir uma prestação. Extingue o próprio direito potestativo.
Origem dos Prazos Apenas os previstos em lei. Podem ser legais (lei) ou convencionais (contrato).
Suspensão / Interrupção Admitem suspensão e interrupção nos casos previstos em lei. Em regra, não se suspendem nem se interrompem.
Reconhecimento pelo Juiz Pode ser reconhecida de ofício pelo juiz (direitos patrimoniais). A decadência legal deve ser reconhecida de ofício pelo juiz.
Renúncia A renúncia à prescrição é possível (tácita ou expressa) após sua consumação. A renúncia à decadência legal é nula.

Prazos Prescricionais Comuns no Código Civil

O Código Civil de 2002 estabelece os principais prazos prescricionais, que variam conforme a natureza da pretensão.

A Regra Geral de 10 Anos (Art. 205)

O Art. 205 do Código Civil estabelece a regra geral: "A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor". Este é o prazo residual, aplicado a todas as pretensões para as quais a lei não preveja um prazo específico. É o caso, por exemplo, de ações de responsabilidade civil contratual.

Prazos Especiais (Art. 206)

O Art. 206 detalha uma série de prazos especiais, menores que a regra geral. Os mais comuns na prática são:

  • 5 anos: Para a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular (Art. 206, § 5º, I). É o prazo aplicável a contratos de empréstimo, boletos, etc.
  • 3 anos: Para a pretensão de reparação civil (indenização por danos morais ou materiais), de ressarcimento por enriquecimento sem causa, e para a cobrança de aluguéis (Art. 206, § 3º, I, IV e V).
  • 1 ano: Para a pretensão do segurado contra o segurador (e vice-versa), e para a cobrança de despesas de hospedagem (Art. 206, § 1º, I e II).

Dica: Nossa calculadora de prescrição já vem pré-configurada com essas e outras hipóteses do Código Civil. Basta selecionar a área "Direito Civil" e escolher a pretensão desejada para que o prazo legal seja aplicado automaticamente.

Prazos Decadenciais Comuns (Vícios e Anulação)

Os prazos decadenciais estão frequentemente ligados ao direito de reclamar por vícios ou de anular atos jurídicos.

Vícios em Produtos e Serviços (CDC e Código Civil)

No Direito do Consumidor, os prazos para reclamar de vícios aparentes ou de fácil constatação são decadenciais: 30 dias para produtos e serviços não duráveis e 90 dias para os duráveis (Art. 26 do CDC). No Código Civil, para vícios redibitórios (ocultos), os prazos para obter a redibição ou abatimento no preço também são decadenciais (Art. 445 do CC).

Anulação de Negócios Jurídicos

O direito de anular um negócio jurídico por vício de consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão) ou por fraude contra credores decai em 4 anos, conforme o Art. 178 do Código Civil. O marco inicial da contagem varia para cada hipótese (ex: no caso da coação, conta-se do dia em que ela cessar).

A Prescrição na Esfera Penal

No Direito Penal, a prescrição é causa de extinção da punibilidade. Ela impede que o Estado puna (Prescrição da Pretensão Punitiva - PPP) ou execute uma pena (Prescrição da Pretensão Executória - PPE) após o decurso de determinado tempo. Os prazos são definidos no Art. 109 do Código Penal e variam conforme a pena máxima do crime. Para uma análise e cálculo detalhado dos prazos penais, recomendamos o uso da nossa Calculadora de Prazo Penal.

FAQ: Perguntas Frequentes sobre Prescrição e Decadência

Qual a diferença prática entre prescrição e decadência?

A prescrição atinge a pretensão, ou seja, o direito de exigir algo de alguém em juízo (ex: cobrar uma dívida). O direito em si continua existindo, mas não pode mais ser cobrado judicialmente. A decadência atinge o próprio direito potestativo, que se não for exercido no prazo, deixa de existir (ex: o direito de anular um contrato).

Como saber se um prazo é prescricional ou decadencial?

A regra geral é: quando a lei estabelece um prazo para o exercício de um direito potestativo (um poder de alterar uma situação jurídica, como anular um ato), o prazo é decadencial. Quando o prazo é para exigir uma prestação (pagar, entregar, fazer algo), o prazo é prescricional. Na dúvida, a lei costuma indicar (ex: 'prescreve em X anos...').

O que pode interromper ou suspender um prazo prescricional?

A prescrição pode ser interrompida (o prazo zera e recomeça) por atos como o despacho que ordena a citação, o protesto do título ou o reconhecimento da dívida pelo devedor. Pode ser suspensa (o prazo para e depois continua de onde parou) em casos como contra incapazes ou entre cônjuges na constância do casamento.

Prazos de decadência podem ser suspensos ou interrompidos?

Em regra, não. Prazos decadenciais não se suspendem nem se interrompem, salvo raras exceções previstas em lei, como a que beneficia os absolutamente incapazes (Art. 208 do Código Civil).

Qual o prazo prescricional para cobrar uma dívida de um contrato?

Se a dívida for líquida e constar de um instrumento público ou particular (um contrato assinado, por exemplo), o prazo prescricional para a cobrança é de 5 anos, conforme o Art. 206, § 5º, I, do Código Civil.

Em quanto tempo prescreve o direito de pedir indenização por danos morais?

A pretensão de reparação civil, que inclui os pedidos de indenização por danos morais e materiais, prescreve em 3 anos, de acordo com o Art. 206, § 3º, V, do Código Civil.

O juiz pode reconhecer a prescrição de ofício?

Sim. Em se tratando de direitos patrimoniais, a prescrição pode ser reconhecida pelo juiz de ofício, ou seja, por iniciativa própria, sem a necessidade de alegação pela parte interessada (Art. 487, II, do CPC).